ADEPARÁ entrega primeiro registro para agroindústria artesanal de chocolate na região do Xingu
Enviado por
rosa.cardoso
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Qua, 26/03/2025 - 10:37
Brasil Novo se destaca como referência na produção sustentável de chocolate artesanal com registro oficial da Agência de Defesa Agropecuária do Pará.
O município de Brasil Novo, localizado na região de integração do Xingu, agora abriga a primeira agroindústria de chocolate artesanal oficialmente registrada pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ).
Reconhecida pela qualidade das amêndoas de cacau cultivadas em sistemas agroflorestais, a região da Transamazônica tem se consolidado como polo de produção sustentável. Nessa região, o cultivo do cacau é consorciado com espécies florestais nativas, que proporcionam sombreamento, conservação do solo e enriquecimento ambiental — características que elevam a qualidade do fruto e do produto.
É desse sistema agroecológico que nasce o "Chocolate Cacau Xingu", marca da produtora Jiovana Lunelli, cuja agroindústria familiar conquistou o primeiro registro artesanal emitido pela ADEPARÁ para uma fábrica de chocolate no estado. A certificação marca um importante avanço na formalização e valorização dos produtos da sociobiodiversidade amazônica.
Com a concessão do registro, a agroindústria está autorizada a fabricar uma variedade de produtos derivados do cacau, incluindo barras com 100% de cacau, nibs e geleias, ampliando as possibilidades de comercialização e agregando valor ao cacau produzido localmente.
“O chocolate produzido com cacau orgânico da região da Transamazônica e do Xingu atende a todas as exigências higiênico-sanitárias e segue rigorosamente as boas práticas de fabricação”, destaca Nelson Leite, fiscal agropecuário responsável pela Gerência de Produtos Artesanais de Origem Vegetal (GPAOV) da ADEPARÁ.
Para a diretora de Defesa e Inspeção Vegetal da Agência, Lucionila Pimentel, o registro representa uma conquista tanto para a agricultura familiar quanto para o fortalecimento da economia regional. “Nossa agricultura está evoluindo, e o serviço oficial precisa acompanhar essa transformação. Cada certificado entregue é fruto de um esforço coletivo entre técnicos, gerências e parceiros locais. É gratificante ver o resultado desse trabalho em iniciativas como esta”, afirmou.
Do campo à barra – uma história de dedicação e sabor
Produzido pelo modelo tree to bar (da árvore à barra), o Chocolate Cacau Xingu é resultado de um processo artesanal que abrange desde o cultivo das amêndoas até a elaboração final dos produtos, utilizando ingredientes selecionados e respeitando práticas sustentáveis.
A registro foi concedida com base na Portaria nº 5094/2024, que estabelece as normas específicas para a produção artesanal de chocolates e seus subprodutos no Pará, com foco na qualidade da matéria-prima, nos processos de produção, rotulagem e segurança alimentar.
“O registro nos garante respaldo legal e transmite confiança aos consumidores. É a certeza de que entregamos um produto de qualidade, feito com responsabilidade e respeito ao meio ambiente”, explica Jiovana Lunelli.
Com uma propriedade de 96 hectares, Jiovana transformou sua vivência familiar em um projeto de vida. Filha de pioneiros no cultivo de cacau no Pará, ela chegou à região ainda criança, nos anos 1970, e teve seu primeiro contato com a produção de chocolate aos 9 anos, em um curso voltado para mulheres agricultoras. Desde então, construiu uma trajetória marcada por aprendizado, inovação e paixão pelo cacau.
“Produzir chocolate é mais do que um ofício. É levar ao consumidor um pedaço da floresta viva, um alimento que carrega a essência da Amazônia. Nosso chocolate é uma experiência sensorial e afetiva”, afirma a produtora.
Parcerias e reconhecimento
A conquista do registro é fruto de um esforço conjunto que envolveu instituições como o Sebrae, por meio do programa Sustenta Inova, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e a própria ADEPARÁ. Jiovana destaca a importância das parcerias para os produtores do interior: “Estamos longe da capital, e esse apoio técnico e institucional foi essencial para que nosso sonho se tornasse realidade.”
Projeções para a COP30
Com os olhos voltados para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém em novembro de 2025, a produtora acredita que o evento será uma vitrine global para o chocolate amazônico. “Estamos mostrando ao mundo que é possível produzir com responsabilidade, agregar valor à floresta em pé e fortalecer a agricultura familiar. Somos a primeira agroindústria certificada, mas muitas outras virão.”
Produção de cacau em Brasil Novo
De acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP), por meio do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Cacau (PROCACAU), Brasil Novo conta com 441 produtores de cacau, totalizando 14.038 hectares de área plantada, dos quais 8.912 hectares estão em produção ativa. O município produziu, em 2023, cerca de 10.659 toneladas de cacau, representando 7,4% do total estadual, cuja produção é estimada em 143.675 toneladas.